quinta-feira, 8 de maio de 2014

Íntimo



O mais antigo dos meus sonhos
É o de uma casa colonial
Com palmeiras e bailes
E escravos a brincarem em computadores.
Há também uma rapariga fresca,
Clara como a aurora
Com a calma e a beatitude de um anjo,
Que ordena a sua vida pelos horários
Dos programas de televisão,
Pensando que isso é o máximo...
Nesse mesmo sonho,
Com frequência, aparece
Um deus em ponto grande
A sussurrar-me:
“Pá!... Pá! … Ó Pá!...
Na minha infinita bondade,
Eu vejo-te.”
E ao fazer-se a manhã,
Com os olhos especados no tecto,
O corpo tenso,
Compreendo que assim sonham os infelizes,
Os cobardes e os crentes,
Compreendo que são os tentáculos da vida
Que tecem estes meandros
Que me perseguem incessantemente
Até à purificação