sábado, 11 de janeiro de 2014

O Cego



Na penumbra, alguém escreveu,
Ou tê-lo-á apenas ditado desta ou de outra forma:
Somos todos os homens e todos os seus sonhos...
Em nós há, tão-só, a solitária memória
E o outro que nunca fomos, que jamais seremos.
É sabendo-o que abraçamos a compreensão do todo
e-sempre-adiado-futuro.
Mímesis, somos o código secreto,
O genesíaco e dinâmico abecedário da face divina.
Em nós, última, a primeira manhã nasceu e morreu,
Como uma nuvem que ainda recordamos:
As águas do princípio serão as águas do fim.
Então, imitatio,
Fomos-somos-seremos todos os feitos,
As suas horas e o seu pó,
O despertar e a nossa morte...
Ouvimos o chamamento deste dia que é todos os outros.
Jamais um ato não terá sido cometido,
Ou um livro escrito,
Ou este poema uma cópia.
Alguém provavelmente o disse antes de mim:
Somos todos os homens
                                               
Por isso, com eles ou sem eles,
Estamos SÓ

sábado, 4 de janeiro de 2014

Parábola



Um Homem,
Irmão de outro, Filho do mesmo pai,
Adiou o dote e não partiu.
A esse Homem não foi dado ter nome.
Temeroso ou temerário resignou-se ali.

Sem o compreendermos, realizou a sua sabedoria
Na partilha dos dias com os seus – estranha viagem!
Sofreu o seu próprio deserto de vida, o seu próprio desterro,
Sem que ninguém lhe louvasse a presença.

Recolheu-se no seu pecado.
– Que pecado teria, afinal? –
E ali,
Soberba casa,
Soube-lhe a comida soberba
Ao sabor dos sabores da comida de sempre...

Esse Homem,
Não o esperaram,
Não lhe deram pela falta,
Não regressou nunca da sua presença.

Esse homem é mais um dos que se perdem na História

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Não dizível



Transcrevam-me por palavras
Esse canto o barulhar da água que corre,
Despertando a madrugada